segunda-feira, 30 de maio de 2011

DIAS GOMES MOSTRA UM MITO: ROQUE


O mito com os prós e contras de sua existência, as superstições de um povo e o grande número de lendas criadas em torno deste fenômeno social foram reunidos por Dias Gomes em Roque Santeiro. Dias, há muito vinha preocupado com esse problema, e esperava apenas "a oportunidade de levá-lo ao ar em forma de crônica de uma cidade do interior". E esta oportunidade chegou com novas responsabilidades para o autor, que escreve pela primeira vez para as vinte horas e, novamente, estréia a cor em mais um horário da Globo.
Sobre o horário, Dias não acredita que "existam padrões de conveniências estabelecidos pela emissora. Existem, sim, determinações que a levam a seguir determinado comportamento que, erradamente, a meu ver, muitos chamam de filosofia de horário. A mim, foi pedido que escrevesse uma novela na linha das produções anteriores sem me preocupar com qualquer outra circunstância. Assim, iniciei Roque Santeiro, na qual não admitirei nenhuma repressão. Pelo contrário. Já cheguei a sugerir que, em caso de haver necessidade de alterar o roteiro de Roque, a medida mais indicada será retirar a novela do ar".

Sobre a história, Dias pretende "apenas colocar em discussão a vantagem ou não de se cultivar o carisma de um mito fabricado por um ato de indiscutível bravura". Como em todas as novelas suas, não haverá graduação entre os personagens. "Todos serão dimensionados de acordo com sua importância para o conjunto, tanto que, as tramas paralelas, de modo geral, convergirão para o centro de interesse da história. A novela se desenvolve em dois períodos. O passado, com todo um levantamento da vida de Roque Santeiro, e o presente, quase conjugado com o futuro, pois mostrará todo o processo decorrente e conseqüente da exploração econômica e social de Roque."

Dezessete anos antes do desenrolar da história, Roque Santeiro, jovem artesão, é trucidado barbaramente por um grupo de cangaceiros que invadiu a cidade imaginária de Asa Branca, no norte da Bahia, próximo a Pernambuco, a fim de saqueá-la. A população, desesperada, não hesitou em se render às exigências dos cabras. Apenas Roque resistiu o quanto pôde, só parando quando foi dominado e estraçalhado. Por isso, Roque virou lenda, mito e padrinho de muitos em Asa Branca. Atraído pela fama do mito, chega a Asa Branca um grupo de artistas do Rio para filmar A Incrível História de Roque Santeiro e de Sua Fogosa Viúva, a Que Era Sem Nunca Ter Sido. Assim, com referência ao passado do herói, a novela se situa por volta de 1973, com Asa Branca enriquecida depois de toda a especulação em torno de seu mito. Há o Zé das Medalhas, por exemplo, que prosperou graças às medalhas e demais efígies que passou a produzir utilizando a imagem de Roque Santeiro. E o Sinhozinho Malta, antigo coronel de Asa Branca, que enriqueceu como pecuarista, explorando o comércio de carnes e tantos outros.

Roque Santeiro é uma composição sobre o interior brasileiro e a malograda aventura de um escultor popular. É a pureza do homem do campo aliada à sagacidade e natural inventiva de nosso camponês. É, ainda, um estudo sobre a psicologia individual e grupal desta constante da presença de um líder, digamos, espiritual. Uma ficção até certo ponto, tratada de maneira fantástica em que, acima de tudo, importa marcar a nítida influência do fenômeno sociológico que é o mito." Para elaborar a sinopse e os primeiros capítulos da novela, Dias Gomes, além de observações pessoais semelhantes às que fez em Fátima, Portugal, quando de sua última viagem à Europa em companhia de sua mulher, Janete Clair, pesquisou sobre artesanato, cunhagem de medalhas, frisadoras, tornos, indústrias domésticas e indústrias de vulto, como a da carne e todo o seu complexo (frigoríficos, circulação, exportação). Para a montagem dos cenários exteriores de Asa Branca será utilizada toda a infra-estrutura já existente em Barra de Guaratiba, onde está sendo gravada Gabriela. Assim, serão duas cidades inteiramente preparadas pela Rede Globo, que pretende mais tarde criar em Guaratiba uma nova sede de estúdios de novelas. As gravações de Roque Santeiro, que substitui Escalada dia 25 de agosto, começam no próximo dia 30.

DENIS CARVALHO É A NOVIDADE DO GRANDE ELENCO

Como toda novela em fase de produção, o elenco de Roque Santeiro foi alterado diversas vezes. Primeiro, as dúvidas foram sobre quem viveria Matilde. Foram cogitadas Teresa Raquel, Norma Bengell e Marlene antes de Rosamaria Murtinho.

Depois, foram sobre o personagem que faria o Roque no filme sobre sua vida. Depois da negativa de Paulo José, pensaram em Jece Valadão, Reginaldo Farias e Mílton Morais, Agora, será Dênis Carvalho, que acaba de assinar contrato com a Globo. Estão confirmados, por enquanto, Francisco Cuoco, Lima Duarte, Bete Faria, Mílton Gonçalves, Emiliano Queirós, Elisângela, Lutero Luís, Luís Armando Queirós, André Valli, Sandra Barsotti, Catulo de Paula, Lady Francisco, Teresinha Amayo e Eva Todor, entre outros.

Por Arnaldo Risemberg
Revista Amiga TV Tudo
2/7/1975

terça-feira, 24 de maio de 2011

ROQUE JÁ E UM SUCESSO PARA O ELENCO - A EXPECTATIVA DE ROQUE SANTEIRO, A NOVELA QUE FOI SEM NUNCA TER SIDO

Matéria publicada em 1975 comentava a ansiedade do elenco para a novela que estrearia em três meses, mas que nunca foi de fato ao ar: A Fabulosa Estória de Roque Santeiro e de sua Fogosa Viúva, a que era sem nunca ter sido.


Roque Santeiro, de Dias Gomes, marcada para substituir Escalada dia 25 de agosto, primeira novela a cores das 20 horas está provocando no elenco um entusiasmo poucas vezes notado no início dos trabalhos de outras novelas. As gravações começaram na semana passada, sob a direção de Daniel Filho, e alguns atores - tanto os que estão estreando na Globo como os veteranos - se mostravam até nervosos, como se estivessem interpretando seu primeiro papel.

Elza Gomes, por exemplo, não parecia ter mais de 30 anos de carreira quando foi fazer o teste de fixação de seu personagem. "Eu estou muito nervosa. Nunca em televisão fiz um papel tão sério. Em rádio, sim. Fui muitas vezes a mulher má. Agora me destacaram para o papel de uma mulher circunspecta e misteriosa."

A história de Dias Gomes gira em torno da figura mítica do herói Roque Santeiro (Francisco Cuoco). A novela passa-se numa cidade fictícia, mas da época atual (Asa Branca, localizada no Nordeste), onde o ambiente é de muita simplicidade. A igrejinha, a casa do prefeito, o cabaré fixam bem o clima reinante no lugar. A cidade inteira vive da lembrança de seu herói. De uma forma ou de outra, todos estão ligados a Roque Santeiro. Alguns cultuam a sua memória, outros atribuem-lhe milagres, mas existem os que o odeiam.

Do elenco de Roque, alguns já trabalharam em novelas de Dias Gomes, como Francisco Cuoco, Lima Duarte e Bete Faria. Outros estão estreando na Globo (Dênis Carvalho, Sandra Barsoti, Eva Todor, Leina Krespi e Valdir Meia). Conscientes da força que Dias imprime a seus personagens, todos estão se preparando com muito cuidado.

Dênis Carvalho vai interpretar um ator que vive o papel de Roque no cinema. Muito contente por estrear na Globo - "e ainda mais numa novela de Dias Gornes" -, ele está tranqüilo, procurando entrosar-se com tudo e com todos.

Sandra Barsoti
Outra estreante empolga é Sandra Barsoti, que também vai interpretar uma atriz que trabalha no filme sobre Roque. "Entrei para -brigar. Está é meu primeiro papel numa novela da Globo, mas estou sendo bastante orientada por Daniel Filho. É uma boa chance e quero aproveitá-la."

Lutero Luís, que foi o Professor Tadeu em Escalada, aparece em Roque Santeiro como o Prefeito Seu Flor. "Minha aspiração na outra novela foi realizada agora: consegui chegar ao posto de prefeito da cidade, graças à ajuda de minha mulher, D. Pombinha."

Eva Todor
como D. Pombinha
Dona Pombinha é Eva Todor, atriz consagrada no teatro, mas que está se exigindo demais, pois também está estreando na Globo. "Tenho que estar mais atenta que os outros, porque em teatro estou acostumada a improvisar. Mas o Daniel Filho está sendo sensacional comigo."

Lady Francisco, eleita Rainha da Equipe Técnica da novela, está curtindo seu novo título e o papel expansivo que interpretará. Ela será Rosali, formando com Leina Krespi (Ninon) a dupla de cantoras de um cabaré dirigido por Rosamaria Murtinho (Matilde).

Teresa Amaio, que está voltando à Globo depois de longo tempo afastada, será Mocinha, filha de Lutero Luís e Eva Todor. Lima Duarte viverá um vaidoso homem de mil perucas (Sinhozinho Malta). Bete Faria, como viúva de Roque, terá sobre si toda atenção da cidade.

Milton Gonçalves será o intransigente Padre Honório. E a estreante Cidinha Millan vai viver João Ligeiro, uma menina criada como cangaceiro e que de repente aparece grávida.

Por Daisy Prétola
Revista Amiga TV
1/5/1975

terça-feira, 17 de maio de 2011

A ABERTURA DA VERSÃO DE 1975

Para quem não sabe, houve uma tentativa de levar Roque Santeiro ao ar em 1975. No dia da estreia, a censura proibiu a exibição da novela. Mas esta é uma história que ainda contaremos. Enquanto isso, divirta-se com a abertura da primeira versão.