segunda-feira, 31 de outubro de 2011

NOS DOIS PADRES A EVOLUÇÃO DA IGREJA

Não há obra de Dias Gomes sem padre. Desde "O pagador de promessas" (passada na entrada de uma igreja), os representantes da Igreja Católica são personagens de Dias. Numa ou noutra rara obra não aparecem. E os padres de Dias Gomes refletem de há muito a própria evolução ocorrida na Igreja, de João XXIII a nossos dias.

De defensores de estruturas rígidas, maniqueístas e fechadas para um arejamento tanto político como existencial. Já o padre de "O bem amado", tão bem interpretado por Rogério Fróes na primeira fase, (quando era telenovela), ainda acentuava as posições da antiga Igreja. Na fase do seriado posterior, ele já andava de bicicleta, conversava com mais soltura e em várias ocasiões assumia posições políticas críticas em relação ao status quo de Sucupira, projeção do quadro nacional exatamente quando, nesta, a Igreja Católica engajara-se na luta pela democracia.

"Roque Santeiro" vem de certa forma resolver os impasses para um autor que pretende retratar o real através da sátira. Um padre voltado para a velha ordem, Hipólito, e outro, Albano, renovador, sem batina e até, como na semana que passou; dançando, todo pimpão, num baile com presença das prostitutas da região. Afinal, a missão pastoral deve exercer-se onde quer estejam homem e o pecado e não apenas nos locais protegidos contra a ordem temporal e mundana.

Não podia haver melhor escolha que Paulo Gracindo e Cláudio Cavalcanti para as interpretações. N'outra oportunidade detalharei como cada um desses atores vem emprestando verdade e sentimento a suas criações.


Artur da Távola
Jornal O Globo
1985


Assista o Capítulo 75 exibido nesta sexta-feira






sábado, 29 de outubro de 2011

CLÁUDIO CAVALCANTI

Ele não tinha tempo para voltar a fazer novela. Já acumulava as atividades de ator, diretor e produtor de uma peça que estréia este mês, além de dirigir alguns episódios do "Caso verdade". Mas Cláudio Cavalcanti não resistiu ao papel de Padre Albano, numa novela que considera "tão especial" como "Roque Santeiro". Resultado: está gostando tanto a ponto de achar que seu personagem devia estar mais presente, pela "importância das idéias progressistas e liberais que transmite".

Fazer o que gosta, esta é a fórmula de Cláudio Cavalcanti. Assim é que "inventa" tempo para misturar tantas coisas no mesmo dia. Fica horas gravando como padre Albano, em "Roque Santeiro", dirige e acompanha os trabalhos de edição e sonorização de um "Caso verdade", e passa as noites ensaiando como ator e diretor, a peça "Estou amando loucamente", na qual ele, Maria Lúcia Frota e Gracindo Júnior andam de bicicleta o tempo todo pelo palco como se estivessem passeando no parque.

- Como faço o que gosto, todo trabalho me descansa e me faz feliz.

Com uma experiência de quase 30 anos, Cláudio vem atuando, há tempos, em outras frentes, e não apenas como ator. Desde que começou a carreira - diz - sente uma inquietação muito grande, que se traduz numa "desenfreada necessidade de criar". E explica:

- Até hoje adoro representar, que é um processo mágico - a gente fica meio possesso, solta as emoções. Mas, quando comecei a dirigir, senti um fascínio muito grande por esta atividade. Hoje, afirmo que, para mim, seria impossível não fazer mais as duas coisas juntas, atuar e dirigir.

Em teatro, Cláudio também produz, cuida da iluminação e da trilha sonora. Ele acha esse trabalho de produção "penoso e cansativo", mas diz que este é o preço que se paga para realizar o espetáculo que se quer:

- Sei que tenho de batalhar por uma produção, para depois ter o prazer de ver um sonho realizado. Até hoje, seja como produtor ou diretor, não pude ainda experimentar a sensação de fazer tudo, dar o tiro de largada e esperar o resultado. Dou o tiro e saio correndo. Mas é bom, gratificante do mesmo jeito. E, depois que a gente entra em cena, todo o trabalho penoso e cansativo é esquecido, o que fica é uma satisfação muito grande.

Todos os momentos de seu trabalho são acompanhados e compartilhados por sua mulher Maria Lúcia, atriz e produtora do espetáculo, e que também participa do "Caso verdade" - "Todo o dinheiro do mundo" - em fase final de gravação. Estão casados há seis anos e, nesse tempo, ela apaixonou-se pelo teatro e abandonou sua atividade de psicóloga, tornando-se atriz:

- Em nossa vida, nada foi programado. As coisas foram acontecendo e nós fomos nos adaptando a elas. Não importa se vamos virar a noite ensaiando, e temos de gravar às seis ou sete da manhã seguinte. Importa, sim, viver todos os momentos numa boa. No dia seguinte, dormimos até mais tarde. Precisamos nos libertar de certas convenções, como a de ter de dormir seis ou oito horas, comer duas ou três vezes por dia. O que vale é sentir, desfrutar a vida.

O apartamento dos dois é amplo, com muitos livros, discos e fitas de videocassete, as paixões de Cláudio - que também dispensa um tratamento especial aos cinco gatos da casa.
Cláudio e Maria Lúcia se conheceram numa reunião na APA (Associação de Proteção aos Animais) - são vegetarianos, porque se opõem à violência do abate dos animais. Com eles mora Lúcia, 13 anos, filha de Maria Lúcia, já iniciada no meio teatral, numa peça infantil. Não há uma rotina - para eles, cada dia é diferente. Diz Maria Lúcia:

- A gente namora muito, mas, na hora de trabalhar, agimos profissionalmente.

Já Cláudio diz que é exigente como diretor, até porque é extremamente rígido consigo mesmo, em todos os sentidos, profissional e humanamente. Dirigindo, ele se acha "gentilmente exigente". Quanto ao trabalho em "Roque Santeiro", destaca:

- A novela é marcante, diferente do que vinha acontecendo por ai. Meu personagem, o padre Albano, é sensacional. Eu e Paulo Gracindo estamos conseguindo fazer dois padres que pensam diferente e têm personalidades diferentes, sem um ser o vilão e o outro Robin Hood.

Olívia Gonçalves
Jornal O Globo
4/8/1985

Assista os Capítulos 73 (quarta-feira) e 74 (quinta-feira)







Cap. 74





quarta-feira, 26 de outubro de 2011

SINHOZINHO MALTA DESCONFIA DE ZÉ DAS MEDALHAS


A procura pelo celerado que matou a pobre vaquinha Ametista está fazendo o Delegado Feijó (Maurício do Valle) pensar até em chamar reforços para a delegacia de Asa Branca. Mas o caso pode se solucionar muito mais rapidamente do que ele imagina.

Temerosa com o ciúme doentio de Zé das Medalhas (Armando Bógus), ainda mais depois que o marido a flagrou na Santa Casa onde também está Roque (José Wilker), a esposa do comerciante encontra a caixa de balas com alguns projéteis faltando e dá por falta da arma. Lulu (Cássia Kiss) sai correndo pela cidade procurando pelo marido antes que ele faça alguma bobagem.

Quem também está à procura de Zé das Medalhas é Sinhozinho Malta (Lima Duarte) que acaba escutando Lulu desesperada perguntando o que o marido anda fazendo com aquela arma já que estão faltando seis balas.

Será que Sinhozinho vai descobrir a verdade? Não perca em Roque Santeiro!


Assista o capítulo 72 exibido nesta terça-feira





terça-feira, 25 de outubro de 2011

E A IMAGEM DO 'SANTO' AMANHECE EM MAUS LENÇÓIS


Mais uma vez, o Prefeito Florindo Abelha (Ary Fontoura) vai suar frio. Amanhece um novo dia em Asa Branca e o povo se concentra na praça, em torno da estátua de Roque Santeiro, maculada durante a noite: alguém vestiu o herói da cidade com roupas íntimas femininas e uma bolsa, querendo desmoralizar o milagreiro. Para a população, é um desrespeito. Para o Prefeito, o caos.

As gravações, terça-feira, na cidade cenográfica de Guaratiba, sob a direção de Gonzaga Blota, contou com a presença de 50 figurantes, que receberam a orientação de não despregar os olhos da estátua. Os personagens também se sucediam na admiração do acontecido. 

Adicionar legenda
Quem primeiro chega é o fofoqueiro Toninho Jiló (Luiz Carlos Barroso), que busca a família de seu Flô. Este quase chora diante do ridículo da situação, só se acalmando depois de cobrir a estátua com um lençol. Os demais ficam consternado, mas, independente disso, a situação é cômica. Ary Fontoura, fora da pele do Seu Flô, não se continha e brincava, cochichando aos outros atores: Depois disso, a fama de Roque não será mais a mesma, não acham?

O que o povo não sabe é que o verdadeiro responsável pela confusão é o Professor Astromar (Ruy Rezende). O mestre com raiva de ter sido preterido por Mocinha (Lucinha Lins) por causa do "santo" resolve se vingar.

Não perca no capítulo desta noite em Roque Santeiro!

ABC DO SANTEIRO

No capítulo desta noite, Matilde (Yoná Magalhães) e Ronaldo (Othon Bastos) se reconciliarão. 20 anos antes, os dois atores haviam trabalhado juntos no filme Deus e o Diabo na Terra do Sol. Saiba mais em Além de Asa Branca.

Sinhozinho Malta (Lima Duarte) chorou a morte da vaca Ametista e acabou comprando briga com Porcina (Regina Duarte) e a "viúva", por sua vez, teve um arranca rabo com Padre Hipólito (Paulo Gracindo) que se recusou a celebrar seu casamento com o coronel, enquanto S. Flô corria de um lado pro outro pra tentar descobrir o que ela e o vigário tanto conversavam. Reveja essas cenas no capítulo 71 exibido nesta segunda-feira.






segunda-feira, 24 de outubro de 2011

PADRE HIPÓLITO SÓ CELEBRA O CASAMENTO DE PORCINA SE TODOS SOUBEREM DA VERDADE



Padre Hipólito (Paulo Gracindo) resolveu mostrar as garras depois que soube que Porcina (Regina Duarte) e Roque (José Wilker) nunca foram casados. Muito irritado pela monstruosidade da mentira, o vigário afirma que não fará o casamento.

Mesmo diante da verdade contada pela ex-viúva e até pelo próprio Roque, o vigário afirma que perante ele, os dois ainda são casados. E o casamento entre Porcina e Malta (Lima Duarte) só se realizará se ela contar a verdade para todos como prova de seu arrependimento.

Porcina afirma que se casará na Igreja Brasileira ou no Uraguai e ainda vou ter um filho só pra ter o gostinho de lhe ver realizando o batizado

Padre Hipólito, ainda mais irritado diz que se depender dele o filho de Porcina nascerá de chifres e morrerá pagão. A escandalosa Porcina, desesperada diz Será que eu vou ser derrotada por um defunto que não morreu?

Não perca essas cenas no capítulo desta noite de Roque Santeiro!

ABC DO SANTEIRO

Yoná Magalhães, Othon Bastos e Maurício do Valle se encontraram 20 anos antes no grande filme brasileiro Deus e o Diabo na Terra do Sol. Leia post a respeito em Além de Asa Branca e ainda assista o trecho de um vídeo onde Jean Cândido Brasileiro visita o Tempo Glauber, espaço que abriga todo o acervo do cineasta Glauber Rocha.

Assista o Capítulo 70 exibido nesta sexta-feira





OS 89 ANOS DE DIAS GOMES


O Brasil hoje comemora. Se estivesse vivo, Dias Gomes completaria 89 anos. Talvez não estivesse vivo nesta idade, mas talvez sim. Infelizmente a fatídica noite de 18 de maio de 1999 abreviou a vida de um grande artista brasileiro, mas não sua obra.

Leonardo Villar em
"O Pagador de Promessas"
Oriundo do teatro, Alfredo de Freitas Dias Gomes, foi responsável por grandes sucessos e também estrondosas polêmicas numa época negra do país. Assumidamente de esquerda, foi perseguido e do mesmo modo que muitos artistas daquela época foi duramente censurado. Uma das poucas entrevistas que me lembro assistir de Dias, ele relatava o episódio da censura à sua novela Roque Santeiro, de 1975, baseada em uma peça de sua autoria de 1963, também censurada, O Berço do Herói. O falante dramaturgo não perdia o humor refinado que tanto o caracterizava.

No teatro, no cinema ou na tv, onde quer que estivesse, Dias Gomes era sinônimo de sucesso. Santo Inquérito, O Berço do Herói, O Pagador de Promessas no teatro, só para citar as principais obras, esta última se tornaria sucesso internacional através do cinema. O filme, com roteiro do próprio Dias, foi o primeiro brasileiro a receber indicação ao Oscar e o único a ganhar a Palma de Ouro em Cannes, no ano de 1960.

O bem amado Odorico Paraguaçu
Na TV, seus personagens se tornariam inesquecíveis e verdadeiros marcos da nossa teledramaturgia. Mesmo quem não tinha idade ou sequer nascido se lembrará do Odorico Paraguaçu de Paulo Gracindo. Suas histórias tinham forte conteúdo político como podemos perceber na crítica nem sempre tão velada de Roque Santeiro. A novela trata de arquétipos políticos muito bem definidos e fala da capacidade que a sociedade possui de criar seus próprios mitos e se cegar diante deles.

Casado muitos anos com Janete Clair, falecida em 1983 vítima de câncer, Dias ainda se casou com a atriz Bernadeth Lízio. A filha do casal, Mayra Dias Gomes, hoje com 24 anos, possui dois livros publicados.

O último trabalho do autor na TV foi a adaptação de Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1998. A minisséria, baseada na obra de Jorge Amado, foi um grande sucesso. 

Como disse no início, o Brasil hoje comemora. Mesmo falecido, Dias nos deixou obras de fundamental importância para nossa cultura teatral e teledramatúrgica. Novelas como O Bem Amado e Roque Santeiro foram verdadeiros divisores de água na televisão brasileira, bem como Saramandaia, Bandeira 2 e tantas outras que entraram em nossas casas através dessa caixa mágica que se chama televisão.

Por Jean Cândido Brasileiro

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

PORCINA CONTA EM CONFISSÃO QUE NÃO É CASADA COM ROQUE


Porcina (Regina Duarte) quer se casar com Sinhozinho Malta (Lima Duarte) de uma vez por todas. Entretanto o coronel não sabe como resolver a mentira contada há 17 anos atrás a respeito do falso casamento entre a perua e o santeiro. 

Agora que Roque (José Wilker) está de volta, Padre Hipólito (Paulo Gracindo) não poderia aceitar este casamento. A "viúva", espertamente, encontrou uma maneira de contar ao vigário a verdade: em confissão.

Só assim, com o direito do segredo de confissão, Padre Hipólito não poderá fazer nada contra eles e Porcina imagina que não sendo casada, o vigário não verá impedimento no casamento entre ela e Malta. 

Será que vai ser desse jeito? Não perca no capítulo desta sexta em Roque Santeiro!


Assista o Capítulo 69 exibido nesta quinta-feira






quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O ACERTO DE CONTAS ENTRE RONALDO E MATILDE


Matilde (Yoná Magalhães) estava se divertindo no forró e nem imagina que quando chegasse em casa teria uma grande surpresa. Ronaldo (Othon Bastos), antigo namorado, está em Asa Branca.

O clima entre os dois é pesado e Ronaldo diz que precisa da  ajuda de Matilde. A dona da pousada fica mordida, mas o homem afirma que eles ainda se amam e um beijo é quase inevitável.

Matilde o afasta e começa a pedir que ele saia de seu quarto, mas Ronaldo bate o pé e diz que dali não sai. Quem chega para salvá-la é Luisão (Alexandre Frota) disposto a brigar para defender sua amada.

Será que vai dar briga? Não perca em Roque Santeiro!




ABC DO SANTEIRO

Leia post sobre Dias Gomes, que completaria 89 anos ontem, em Além de Asa Branca.

O forrobodó acabou em muita confusão no no capítulo 68, exibido nesta quarta-feira. Reveja!






quarta-feira, 19 de outubro de 2011

MALTA PERTO DE FLAGRAR ROQUE E PORCINA.


O forró tá correndo solto na Vila Miséria e até Matilde (Yoná Magalhães), Ninon (Cláudia Raia) e Amparito (Nélia Paula) passaram por lá.

Quem também está com muita vontade de dançar é Porcina (Regina Duarte) que decide ir até lá. Logo que chega ao forró, a "viúva" encontra com Roque (José Wilker) e pede a ele que volte para sua casa.

O ex-santeiro questiona se ela o quer em sua casa para vigiá-lo melhor ou se é por causa da saudade e propõe um jogo: se ela aceitar dançar com ele é porque realmente está com saudade.

Mas enquanto dançam um forró, Sinhozinho Malta (Lima Duarte) volta à Vila Miséria e vê o carro de sua noiva estacionado. O coronel segue direto para o Salão Paroquial.



Será que Sinhozinho flagrará os dois? Não perca em Roque Santeiro!

ABC DO SANTEIRO

Dias Gomes, criador de Roque Santeiro, completaria 89 anos hoje! Leia editorial sobre o dramaturgo em Além de Asa Branca.

Reveja os momentos dramáticos de Asa Branca no capítulo 67, exibido nesta terça-feira






ALÉM DE ASA BRANCA - ROQUE SANTEIRO: POSSÍVEIS RAZÕES DO SUCESSO



O sucesso de "Roque Santeiro" merece meditação e análise. É cedo demais para a análise precisa. Muitos elementos ficarão claros ao longo do tempo. Alguns pontos, porém, parecem-me óbvios.

1) O esquema das novelas das oito estava, já, cansando. De alguma forma elas se repetiam. Vinham sendo feitas com fórmulas. "Roque Santeiro" sacudiu o gênero.

2) Muitos dos principais autores de telenovela estavam fora delas, alguns nas séries e seriados (como o próprio Dias Gomes). Janete Clair e Jorge Andrade morreram; Lauro César Muniz estava afastado do horário desde "Os gigantes"; Bráulio Pedroso idem. Ora, só aqui são cinco nomes do primeiro time. Abala.

3) Vários diretores importantes também andavam afastados das telenovelas, atuando em seriados e séries. A novela aos poucos foi perdendo autoria, estilo, definição estilística. Sinto em "Roque Santeiro" uma preocupação com tudo isso. Há três diretores, porém, sobreleva uma unidade estilística que traz bom resultado.

O mais... bem, o mais é o talento do autor e um elenco que dificilmente pode ser superado no Brasil em termos de aliança de qualidade com tarimba. É até injusto citar, mas que qualidade e variedade de bons atores em ótimos personagens!

CEGO JEREMIAS - O QUE VÊ LONGE

Um talento multiforme da televisão, do qual se tem falado relativamente pouco, está brilhando agora - novamente como ator - na novela "Roque Santeiro": Arnaud Rodrigues, fazendo o cego Jeremias. Arnaud tem feito de tudo, na televisão: redator de programas humorísticos, cantor, compositor, humorista (lembram-se dele com Chico Anysio fazendo "Baiano e os novos Caetanos?") e, desde a minissérie "Bandidos da Falange" parece ter encetado uma definitiva carreira de ator dramático, em que nunca falta um travo de ironia, para não dizer comicidade.

Atualmente, como o cego Jeremias, não tem aparecido muito. Mas em cada cena é marcante. É desses artistas que conseguem fazer de um pequeno papel, interpretação pregnante. Aposto que muita gente "torce" para que apareçam Jeremias, seu violão, seu pequeno guia e seu incrível poder de percepção das coisas - um cego que, na verdade, "enxerga" muito mais longe que os de suposta boa vista.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

FORROBODÓ NA VILA MISÉRIA



A confusão tomou conta da cidade de Asa Branca e quase que uma grande injustiça é cometida. Para comemorar o desfecho feliz, Padre Albano (Cláudio Cavalcanti) resolve organizar um forró no Salão Paroquial na Vila Miséria.

Quem logo adere aos festejos é Roque (José Wilker) que vai ajudar o novo amigo a organizar tudo. A festa vai correr solta, mas os moradores do local podem esperar muitas emoções.

A presença de Matilde (Yoná Magalhães), Ninon (Cláudia Raia) e Amparito Hernandez (Nélia Paula) prometem agitar a festa e a chegada intempestiva de Sinhozinho Malta (Lima Duarte) que é logo enfrentado por Padre Albano e pela própria filha Tânia (Lídia Brondi).

Quem também tá louca por um forró é Porcina (Regina Duarte). E enquanto todos se divertem, Ronaldo (Othon Bastos) chega à Pousada do Sossego.

Não perca as emoções de Roque Santeiro!

Assista o Capítulo 66 exibido nesta segunda-feira


ATENÇÃO: Estes vídeos foram reeditados a partir da versão do Vale a Pena Ver de Novo. Há alguns cortes, mas estamos reorganizando de acordo com os capítulos originais. 





segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O REENCONTRO DOS AMIGOS ROQUE E ZÉ


O quarto de Roque Santeiro, na casa da viúva Porcina, foi o ambiente escolhido para cenas de muita emoção, reunindo o herói ressuscitado e seu amigo de infância, o comerciante Zé das Medalhas. Foi na quinta-feira, com direção de Gonzaga Blota, que José Wilker e Armando Bógus ensaiaram, em meio a muitas brincadeiras, o episódio que depois gravaram com dedicação. "Vai ficar um primor quando for ao ar", admirava Eloísa Mafalda, diante do monitor que repetia as tomadas.

Primeiro foi a vez da tensão: era o momento em que Zé das Medalhas chegava, de posse de uma faca, para apagar o misterioso hóspede da viúva Porcina, que, para Zé, andava virando a cabeça de sua mulher. Lulu. Só com muita habilidade Roque - e depois Porcina, que aparece para esfriar os ânimos -, conseguiu deter o enfurecido marido.

Na história, há a passagem de um capítulo até a seqüência seguinte. E ela foi gravada somente depois do horário de almoço. Blota solicitou muito silêncio, para manter os dois atores concentrados. Para Armando Bógus, a carga era até maior, porque ele deveria chorar, em determinado momento. É quando Zé chega novamente à casa de Porcina, depois de ter estado na praça de Asa Branca, olhando, cismado, para a estátua de Roque Santeiro. O herói, diante de Zé, não tem mais como negar o óbvio: se abre com o amigo, confessa e mostra sua real identidade, e os dois passam a relembrar a infância. A atitude de Zé das Medalhas é inesperada: ele se enternece, abraça o amigo, chora e eles depois brindam o reencontro. Segundo Armando Bógus, Zé ainda tem bons sentimentos:

- Ele e Roque eram muito ligados numa fase mais leve da vida do Zé. No choque da notícia, ele fica feliz ao saber que o amigo está vivo, mas depois não vai aceitar o fato assim tão facilmente. Afinal, a volta de Roque traz muitos prejuízos para o meu personagem, não é?

Jornal O Globo
18/8/1985

Não perca este emocionante momento em Roque Santeiro.

Assista o Capítulo 60 exibido na sexta-feira



sexta-feira, 7 de outubro de 2011

ZÉ DAS MEDALHAS RECONHECE ROQUE SANTEIRO



O clima esquentou em Asa Branca depois que Zé das Medalhas (Armando Bógus) flagrou Lulu (Cássia Kis Magro) de papo com o estranho Duarte (José Wilker). Munido de uma peixeira, o comerciante afirma que defenderá sua honra.

Sabendo onde vive o famigerado conquistador, Zé vai atrás dele na casa de Porcina (Regina Duarte). Roque tenta dizer a ele quem é de verdade, mas além de estar muito enfurecido, a própria "viúva" o defende inventando mais uma história rocambolesca.

Zé se acalma, mas passeando calmamente pela rua da cidade ao se deparar com a estátua do santo logo identifica estupefato ao se lembrar do misterioso homem: Roque Santeiro!

E agora? O que ele fará? Não perca em Roque Santeiro!





ABC DO SANTEIRO

Leia as notinhas preciosas sobre a novela publicadas na época. Ao mesmo tempo que os jornais tentavam decifrar os motivos reais para o sucesso de Roque Santeiro, outros atentavam para o fato de alguns atores preciosos comporem o elenco, caso de Arnaud Rodrigues, intérprete do Cego Jeremias. Em Além de Asa Branca.

Mocinha (Lucinha Lins) criou uma verdadeira confusão na casa de Porcina. Reveja o Capítulo 59 exibido nesta quinta-feira.





ALÉM DE ASA BRANCA - UM POUCO DE MUITA COISA ABRINDO A SEMANA


Quando a telenovela transcende o episódio consegue ganhar a consideração tanto do povão como de camadas mais cultas da população. O Professor Sérgio Pereira da Silva, além de mestre do Direito é membro do Conselho Estadual de Educação e um dos assessores do Cardeal Eugênio - Salles no Conselho Pontifício para a Cultura, instituído pelo Papa João XXIII.

Em breve estudo sobre Roque Santeiro e sua relação simbólica com o Brasil, o citado professor estabelece, ao final do trabalho, a vinculação da figura do "Professor" da novela, por nome Astromar Junqueira, como é tratado, no país, educação. Veja o competente leitorado que instigante seu texto:

(...) "A sensibilidade de Dias Gomes chega a genialidade com a figura do Professor. Seu próprio nome, Astromar Junqueira caracteriza a visão da sociedade para com a escola. Professor é alguém diferente, peculiar. E meio soturno e pode virar lobisomem,e principalmente, pode virar a caça das crianças. Sua oratória é elogiada e não compreendida. Presidente do Centro Cívico e Literário Asabranquense é sempre convidado para as solenidades oficiais. Todos o elogiam pela intelectualidade e capacidade oratória, embora não entendam e marquem o tempo de duração de seu discurso. O Professor não pede licença para entrar, mas diz com voz empostada: "Posso penetrar?"
Faz parte integrante da vida de Asa Branca, mas não entra no fechado circulo do poder decisório. É bom tê-lo por perto, pois sua presença dá respeitabilidade, mas sequer é ouvido nas grandes ou pequenas decisões. Este tem sido o destino e a sina da educação e dos seus integrantes. E fundamentalmente a sua existência, mas perfeitamente dispensável a sua opinião.

Na realidade, escola e universidade não participam das decisões, seja em nível municipal, estadual ou federal. Os candidatos falam na educação como prioridade, mas a escola jamais é chamada para opinar ou decidir as prioridades de um governo. Não se conhece um plano qüinqüenal ou qualquer PND que tenha sido elaborado com a participação da universidade".

"Asa Branca tem hotel, boate, igreja, fazendas, prefeitura e deve ter escolas. Estas, não aparecem porque não são importantes. Em nada alteram o curso da História ou da própria história. Sequer fazem figuração..."

"O Brasil é uma gigantesca Asa Branca e o papel da educação nesta sociedade é desempercilhado pelo Professor Astromar, apenas discursivo e ilustrativo. Seria interessante e proveitoso que nas escolas, em aulas de literatura, se discutisse a excelente obra que o vídeo nos apresenta."

O trecho acima, do Professor Sérgio Pereira da Silva, mostra como é possível a veículos populares como rádio e televisão fornecerem dados e captações até então peculiares à melhor literatura ou sociologia.

Por Artur da Távola
O Globo
22/8/1985

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

MOCINHA VÊ ROQUE NA CASA DE PORCINA


As beatas estão enlouquecidas. Padre Hipólito (Paulo Gracindo) resolveu tomar uma decisão bastante polêmica e vai balançar as estruturas da Igreja em Asa Branca.

Em crise de consciência porque está compactuando com uma mentira, o padre decide que não quer imagem de Roque Santeiro dentro de sua Igreja. As beatas esbravejam, mas nada faz o pároco arredar pé de sua decisão. É quando decidem ir à casa de Porcina (Regina Duarte) e pedir a ela que interceda junto ao padre.

Mesmo relutante, Mocinha (Lucinha Lins) vai junto com a mãe e as beatas para falar com a "viúva". Muito incomodada, a ex-noiva do santeiro prefere ficar do lado de fora. Roque (José Wilker) que prefere não ficar preso em seu quarto, acaba cruzando com a donzela que solta um sonoro berro e afirma a todos "Eu vi Roque! Eu vi!"

Não perca essas cenas em Roque Santeiro!


ABC DO SANTEIRO

A doce Mocinha tem como tema a bela canção Chora Coração de Wando. Ouça em Trilha Sonora!

Divertidíssima a sequência em que as beatas ficam em polvorosa diante da retirada de Roque Santeiro da Igreja. D. Pombinha (Eloísa Mafalda) conduz o grupo de senhoras diretamente para a prefeitura, antes de ir atrás de Porcina. A mulher do prefeito exige que ele vá falar com o padre. 

O capítulo 57, exibido nesta terça-feira, pode ser assistido aqui! 





terça-feira, 4 de outubro de 2011

SINHOZINHO FLAGRA MARILDA E ROBERTO NO HOSPITAL


Era bom demais pra ser verdade. Roberto Mathias (Fábio Jr.) está em franca recuperação no hospital, sob os cuidados de Sinhozinho Malta (Lima Duarte). Em poucos dias, o ator estará de volta para Asa Branca e logo poderá voltar a filmar.

Roberto está repousando quando entra em seu quarto, Marilda (Elizângela). O ator fica assustado e pergunta se ela veio matá-lo de vez, mas Marilda diz que está decepcionada consigo mesma por não ter acertado onde devia. 

Quando o ator vai tentar chamar a segurança, Marilda o ataca e lhe beija à força. Neste momento, surge Sinhozinho (Lima Duarte) que embora estivesse convencido que Roberto está sinceramente apaixonado por sua filha pode mudar rapidamente de opinião.

Será que Malta vai acreditar nas explicações de Roberto? Não perca em Roque Santeiro!

ABC DO SANTEIRO

Enquanto todo mundo estava pensando se Professor Astromar (Ruy Rezende) era ou não o lobisomem, o crítico Artur da Távola conseguiu localizar os escritos de um professor que relaciona o personagem com o modo que o Brasil trata seus mestres. Leia em Além de Asa Branca.

Mistérios da Meia Noite é o grande sucesso de Zé Ramalho que acompanha as aventuras do lobisomem. Ouça o tema em Trilha Sonora.

Perdeu o capítulo 56? Assista agora aqui no blog!






ALÉM DE ASA BRANCA - O HOMEM BRASILEIRO NA PELE DE SINHOZINHO


Não há quem resista ao charme meio desajeitado de Sinhozinho Malta. Quando ele sacode o braço, chacoalhando a pulseira e o relógio ao som da cascavel, todos riem. Imitam o bordão pelas ruas. Sinhozinho Malta é o mais bem-acabado personagem de Ariclenes Venâncio Martins, o Lima Duarte. Mineiro, 55 anos, ele consegue destacar-se no elenco impecável de Roque Santeiro, novela que arrebanha fantásticos índices de audiência Brasil afora. Entusiasmado com "o homem brasileiro" embutido no personagem, Lima Duarte fala de seu trabalho.

- Como se explica o sucesso retumbante da novela Roque Santeiro?
- Acho que o público estava cansado de cenas em que o mocinho bebe uísque matutando sobre o homossexualismo, discutindo as dores da alma. Fico pensando no operário, num torneiro mecânico do ABC, por exemplo, que passa oito horas em cima de uma máquina e, ao ligar a televisão de sua casa, vê um mundo que na cabeça dele só pode existir na Suécia. Dinamarca ou Noruega. Esse operário, tenho certeza, gostaria de se ver no vídeo. Está aí um dos truques de Roque Santeiro: coloca-o em cena, bem canhestro, o brasileiro típico. Além disso, a história da novela trata de um tema poderoso, mexendo com o mito, com milagres que não existem. Asa Branca vive em torno de um milagre que não aconteceu, de uma viúva que não é, essas coisas de Brasil.

Mas o grande público faz essa leitura da história?
Talvez não. É provável que, conscientemente, o grande público não perceba as coincidências históricas. De qualquer forma, Roque Santeiro passa a idéia da grande mutreta nacional, o público intui com a maior clareza. E, hoje, se regozija em ver a novela vetada pelo senhor Armando Falcão em nome da Velha República. Gosta da história liberada pela Nova República.

Na sua opinião, por que Roque Santeiro foi proibida?
E eu lá sei? Mas desconfio que na Censura não existiam pessoas capazes de conhecer Brecht e sacar todo o conteúdo da frase "infeliz o povo que precisa de heróis".



A novela prova que o Brasil começa a ser interessante?
As novelas andavam abordando apenas os problemas de uma classe média urbana. Hoje, Roque Santeiro brinca com o Brasil, com os problemas nacionais. É bom lembrar que a farsa de Dias Gomes e Aguinaldo Silva só pode deslanchar com a liberdade dos últimos tempos. Antes, os autores tinham limites, não podiam sequer fotografar a realidade brasileira.

As novelas são um produto brasileiro de olho no mercado externo. Você acha que vai despertar o interesse do público estrangeiro?
Claro, bem mais que as outras. Eles não querem ver uma imitação barata do que eles são. O Brasil é bizarro e interessa a todos. Acho apenas que a venda da novela no exterior deve ser bem feita, explicando que país é este que se alimenta de milagres, em todos os níveis.

Luiz Gustavo em
Beto Rockfeller
Você dirigiu Beto Rockfeller, novela que revolucionou a dramaturgia televisiva da época. Depois disso você dizia que só dava Beto. Roque quebra essa tendência?
Roque Santeiro é um outro filão. Antes de Beto Rockfeller, a novela brasileira vivia a fase do folhetim com histórias pairando acima da realidade. Beto Rockfeller teve a importância de fazer a dramaturgia aterrissar, colocar o pé no chão. Por muito tempo, no entanto, Beto ficou no vídeo, travesti-do nos mais diferentes personagens. Só quem conseguiu escapar dessa fórmula foi Dias Gomes, com O Bem Amado. Inaugurou o realismo crítico que, agora, está escancarado em Roque Santeiro. Mas enveredar pelo realismo critico não é uma tarefa simples, exige um imenso conhecimento da realidade.

Você costumava dizer que a novela brasileira estava numa encruzilhada, fugindo do cotidiano brasileiro e se aproximando do charme rico do Casal 20. Roque Santeiro abre novos caminhos?
A novela parecia aquelas mulheres bonitas de folhinha de borracheiro, um sonho distante, inatingível. Foram criadas fórmulas plásticas de escapismos, não reportavam nossa gente e nosso tempo. Quando olhava para a tela, via tudo pasteurizado: o iogurte se apaixonava pela manteiga que era filha do queijo. Acho que Roque Santeiro abre caminho para o resgate da formação brasileira, pode-se falar das pessoas que fazem - ou fizeram -este país. Estamos no tempo de resgatar o orgulho nacional, já não precisamos ter vergonhada da bandeira verde e amarela e do nosso hino.

A novela interrompe o tal "naturalismo" na televisão, voltando ao estilo interpretativo. Isso é bom?
Muito bom. O estilo naturalista era meio cúmplice da malandragem, os atores não se davam ao trabalho de interpretar, procurar construir o personagem. Interpretar é muito gostoso. Regina Duarte, por exemplo, mudou muito, está explodindo nessa novela. A riqueza com que interpreta seu personagem fez com que ela se despisse da "namoradinha do Brasil" e passasse a "amante brasileira". Está fantástica. Gosto do realismo crítico porque ele exige mais do que apenas decorar páginas e andar no caminho traçado pelo diretor. A gente tem que ir buscar todo o conhecimento da arte e da vida. É preciso reativar a memória emotiva. Uma vez perguntei a Ziembinsky, que era polonês, como fazia para representar tão bem em outra língua. Ele me abriu os olhos, dizendo que o difícil não era decorar o texto em português, mas captar a emoção brasileira.

Como você se transforma, na televisão, no intérprete do homem do interior?
Eu sou do interior. Na elite dos atores brasileiros sou o único de formação rural e isso ajuda muito na composição do personagem. Sou o produto de uma rara estrutura familiar: meu pai trabalhava no campo e minha mãe no circo. Essa proximidade do picadeiro despertou a vontade de ser ator e, quando surgiu a televisão no Brasil, participei das primeiras imagens, representando um aluno caipira.

Lima como Zeca Diabo
em "O Bem Amado"
Zeca Diabo e Sinhozinho Malta têm características muito parecidas. Assim como seu grande sucesso no cinema, o personagem sargento Getúlio. Por conta disso, alguns críticos dizem que Lima Duarte é ator de um único papel...
Para esses críticos, tenho a piada pronta: somos eu e o Chaplin. Eu e o John Wayne. Eu e o Henry Fonda. Essa acusação é a prova de que somos uma colônia cultural, não tenho o direito de representar o homem brasileiro. John Wayne ganhou uma estátua, eu levo espetões. Fiz, na Globo, três grandes personagens: Zeca Diabo, Salviano Lisboa e, agora, Sinhozinho Malta. Na minha cabeça é como se fosse a trilogia do homem brasileiro. Quando recebi o papel de Sinhozinho Malta, pensei: "Pega o Zeca, enche com dinheiro do Salviano e burila."

O Sinhozinho Malta de hoje é o mesmo da primeira versão da novela?
Não tem nada a ver, só na periferia. Os grandes embustes, os escândalos "transamazônicos" só fiquei sabendo agora. E, evidentemente, isso deu outro colorido ao personagem. E preciso existir uma boa idéia por trás do personagem senão a criação se perde no ar. Imaginei o Sinhozinho Malta como um feliz herdeiro do caso da mandioca, corrupto e corruptor. Aquele sujeito que enriqueceu e fica macaqueando Hollywood, sonha ser um Robert Redford e tem como ídolo o J. R. de Dallas.

Aquele tilintar de pulseira e relógio foi você quem inventou?
Fui eu, com um fundamento psicológico. Quando Sinhozinho Malta está contrariado, mostra os ouros, o poder. Essa idéia é ajudada pelo som da cascavel. Sei que o público adora esse trejeito do personagem e o imita por aí. E a tal história, bordão só dá certo quando está bem fundamentado. Já estou diminuindo o "tô certo ou tô errado", porque é um pouco forçado.

Mesmo premiado no teatro e aplaudido no cinema, a televisão parece ser o veículo sob medida para sua arte. Concorda?
Minha sensibilidade funciona afinadíssima na televisão. Conheço tão bem a televisão que posso abstrair tudo que acontece no estúdio e chegar direto ao espectador. Sei como trabalham os diretores, os iluminadores, os câmeras. Domino o veículo. Sou capaz de fazer a expressão que quero apenas com a parte do rosto que está sendo enquadrado pela câmera. Mas acho o teatro da maior importância. Não faço tão bem por deformação profissional. É na televisão que consigo o melhor desempenho do papel de ator.

E qual é, na sua opinião, o papel do ator?
Representar seu povo. Quando alguém diz que sou bom ator, está me dando a melhor credencial para representá-lo. O político também representa o povo, mas credencia-se através do voto, corruptível. Assim, a representatividade do ator é mais legítima. Que os políticos fiquem com o poder. Eu prefiro o delírio.


Tá certo ou tá errado?


Por Miriam Lage
11/8/1985
Jornal do Brasil